Você conseguiria listar quantas mudanças a pandemia causou no cotidiano das pessoas ao redor do mundo?
É evidente que, após dois anos de intensas coberturas jornalísticas e adoção de medidas sanitárias, a pandemia do coronavírus se tornou um tema saturado. Até arrisco dizer que alguns têm medo de tocar no assunto, como se isso pudesse atrair uma nova pandemia para hoje. Mas, para além do uso de máscaras, de testagens e do distanciamento social, a pandemia foi um mega-acontecimento que reorganizou, de maneira global, as estruturas econômicas, políticas e sociais que já conhecíamos.
No Brasil, a pandemia afetou o mercado de trabalho e exigiu do trabalhador uma reorganização de planos — e muita inovação. Nesse contexto, as mulheres enxergaram no empreendedorismo uma possibilidade de renda e autonomia. Segundo uma pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM) em parceria com o Sebrae, 55,5% das novas empresas criadas nesse período foram abertas por mulheres.
Mas, afinal, o que significa empreender?
O conceito de empreendedorismo é estudado por muitos autores em diferentes contextos. Entretanto, a definição de Adelar Francisco Baggio consegue reunir as várias descrições atribuídas ao empreendedor ao longo dos anos.
Para ele, o empreendedor são todos aqueles que:
“Têm iniciativa para criar um próprio negócio e paixão pelo que faz. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive. Aceita assumir riscos e a possibilidade de fracassar”.
Um conceito que não somente define um ato econômico, mas de propósito individual e mudanças sociais. É uma oportunidade para aqueles que não se enxergam mais atuando no mesmo nicho no mercado de trabalho, para aqueles que querem trabalhar com propósito e paixão pelo o que fazem — é para todos que querem transicionar de uma vida para outra.
Nem tudo são flores
No entanto, o empreendedorismo feminino não é um mar de rosas. Além de ser um ambiente predominantemente masculino, muitas empreendedoras encontram problemas relativos ao financiamento dos seus negócios, à competição no mercado, a discriminação de gênero e idade, além do desafio de buscar equilíbrio entre trabalho e família.
Ainda sobre a pesquisa realizada pela GEM, quando comparado a 2019, houve uma queda significativa entre empresas estabelecidas no mercado e os empreendimentos novos com até 3 anos de operação, de 62% e 37%, respectivamente. Logo, é visto um “abre e fecha” de negócios liderados por mulheres.
Isso pode ser explicado já que, ao iniciar seus negócios, muitas mulheres dependem de recursos provenientes de economias pessoais, empréstimos de familiares e amigos. Essa fonte de capital inicial revela não apenas a capacidade de mobilizar recursos próximos, mas também indica uma predisposição para assumir riscos pessoais em prol do empreendimento. No entanto, essa abordagem tem limitações, especialmente diante das características dos setores em que muitas mulheres empreendem.
Setores relacionados à alta tecnologia, por exemplo, demandam investimentos constantes em renovação tecnológica. Além disso, a predominância de empreendedores jovens nesses setores cria uma dinâmica desafiadora para as empreendedoras. A dificuldade em acessar financiamento é acentuada nesse contexto, criando uma barreira adicional para o crescimento desses negócios.
Planejar nunca é demais
A gestão empresarial das empreendedoras destaca-se pela liderança interativa e pela construção de uma rede social sólida. Essas características são fundamentais para superar desafios, especialmente em um ambiente de negócios onde as mulheres enfrentam discriminação de gênero, competição acirrada e a necessidade de equilibrar as demandas profissionais e pessoais.
A busca por qualidade e crescimento gradual orienta as estratégias de gestão das empreendedoras, que reconhecem a importância de parcerias internas e externas. Essa abordagem, centrada no fortalecimento de relacionamentos, destaca-se como uma vantagem estratégica, permitindo acesso a recursos e oportunidades que podem não estar disponíveis de outra forma.
No entanto, a complexidade do empreendedorismo feminino vai além do relacionamento interpessoal. A necessidade de melhor utilização de recursos da internet, planejamento estratégico, posicionamento da marca e busca de novas parcerias evidencia a busca constante por inovação e eficiência. Ademais, a atualização de conhecimentos, o aprimoramento da gestão e a busca por novos nichos de mercado são aspectos essenciais para garantir a competitividade no dinâmico cenário empresarial.
Do grego, strateegia
Diante dessas nuances do empreendedorismo feminino, o desenvolvimento de estratégias personalizadas, adaptadas às circunstâncias individuais e aos desafios específicos enfrentados por cada empreendedora, torna-se uma abordagem estratégica essencial. A experiência de uma mãe empreendedora, por exemplo, é singular, e traz consigo uma série de responsabilidades e desafios distintos em comparação a uma empreendedora sem filhos.
Em todo caso, a resiliência e a capacidade de aprender com a prática são ativos valiosos, mas combiná-las com uma busca consciente por conhecimento e habilidades gerenciais pode potencializar ainda mais o sucesso e a sustentabilidade dos negócios liderados por mulheres.
Cristina Porto Vesz
Consultora Estratégica, Mentora de Mulheres Empreendedoras e Palestrante.
M+ Consultoria para Mulheres.